domingo, 19 de abril de 2009

A ODISSÉIA DE ULISSES


A Odisséia de Homero é a maior epopéia escrita pelos gregos. Trata-se de um poema em verso e prosa, uma exaltação do povo grego ao herói mortal Ulisses - também conhecido como Odisseu. Acredita-se que essa epopéia tenha acontecido entre os séculos XII e VIII a.C.

A GUERRA DE TRÓIA


Este incidente histórico começou quando o lendário rei Menelau e seu irmão Agamênon convocaram todos os reis e nobres da Grécia para ajudá-los a montar uma expedição contra Tróia. Gregos e troianos entraram em guerra por causa do rapto da princesa Helena de Tróia, esposa do rei Menelau, por Paris, filho do rei Príamo de Tróia. Isto ocorreu quando o príncipe troiano foi à Esparta, em missão diplomática, e acabou apaixonando-se por Helena. O rapto deixou Menelau enfurecido, fazendo com que este organiza-se um poderoso exército.


Agamênon era o líder da força grega e rei de Atenas, enquanto seu irmão mais velho, Menelau, era rei de Esparta. Após a convocação, os heróis gregos afluíram de todos os cantos do continente e das ilhas para o porto de Áulis, o ponto de reunião a partir do qual planejavam velejar através do Egeu até Tróia.

Alguns dos heróis foram a Áulis mais facilmente do que outros. Ulisses, que conhecia a profecia de que se fosse a Tróia não retornaria antes de vinte anos, fingiu loucura quando Menelau e Agamênon chegaram para convocá-lo. Porém, a farsa de Ulisses foi revelada quando uma criança foi colocada propositalmente à frente de seus cavalos em uma corrida de bigas.

Completamente senhor de suas sanidades, o primeiro reflexo foi salvar a criança, caindo assim a máscara de sua farça.


O motivo pelo qual Ulisses não intencionava lutar na Guerra de Tróia era simples:

segundo a profecia, ele passaria dez anos lutando em Tróia e por outros dez anos singraria os oceanos, naufragando, acabando por ficar desprovido de todos os seus companheiros, freqüentemente com a vida por um fio, até que no vigésimo ano chegaria novamente às praias de sua terra natal, a ilha rochosa de Ítaca, onde seu filho Telêmaco e sua esposa Penélope o esperavam.


A grande força grega, cujos maiores heróis eram Agamênon, Menelau, Ulisses e Aquiles, estava pronta para partir. E assim foi. No sétimo ano de guerra, os troianos tinham fugido da matança de Aquiles e buscado refúgio atrás de suas muralhas, mas Hector permaneceu fora dos portões, deliberadamente esperando pelo duelo que sabia ter que enfrentar.

Quando Aquiles finalmente surgiu, Hector foi tomado de compreensível terror e virou-se para fugir. Percorreram três voltas ao redor das muralhas de Tróia antes que Hector parasse e destemidamente enfrentasse seu bravo oponente.
A lança de Aquiles alojou-se na garganta de Hector, caindo este ao chão.


Mal podendo falar, Hector pediu a Aquiles que permitisse que seu corpo fosse resgatado após sua morte, mas Aquiles estando furioso, negou seu apelo e começou a sujeitar seu corpo a grandes indignidades. Primeiro o arrastou pelos calcanhares atrás de sua biga, ao redor das muralhas da cidade, para que toda Tróia pudesse ver. A seguir levou o corpo de volta ao acampamento grego, onde este ficou jogado sem cuidados em choupanas.


Após a morte de Hector, um grande número de aliados veio ao auxílio dos troianos, incluindo as Amazonas e os Etíopes. Todos foram mortos por Aquiles, mas ele sempre soube que estava destinado a morrer em Tróia, longe de sua terra natal.

Príamo, pai de Hector, pede ajuda às Ninfas do Mar e a Posêidon, querendo saber o ponto fraco de Aquiles e descobre que a mãe sua mãe, Tétis, quis tornar seu filho imortal e quando este era ainda um bebê, levou-o ao Mundo Inferior e o submergiu nas águas do rio Estige; isto tornou seu corpo imune aos ferimentos, exceto pelo calcanhar, o qual ela utilizou para segurá-lo, justamente onde foi atingido pela flecha lançada do arco de Príamo.


Após a morte de seu maior campeão, os gregos recorreram à astúcia nos seus esforços de capturar Tróia, que tinha agüentado seu cerco por dez longos anos. Ulisses teve a idéia de construir um cavalo de madeira para ser ofertado aos troianos, como símbolo de sua rendição. Ao ficar pronto, um grupo composto pelos gregos mais corajosos, incluindo Ulisses, entrou no cavalo e rumaram a Tróia.

O cavalo de madeira foi ofertado a Príamo por Euríloco, um grego que fingia trair seu povo em troca de perdão. Laocoon, que considerado adivinho em Tróia, alertou que o presente era uma armadilha. Disse ainda que os troianos não deveriam confiar no presente dos gregos.

Logo em seguida as serpentes de Posêidon o enlaçaram e estrangularam. Com este augúrio, os troianos não hesitaram mais e começaram a mover o grande cavalo para dentro de suas muralhas, derrubando suas fortificações de modo a poder fazê-lo entrar.


Ao cair da noite, os heróis que estavam confinados dentro do cavalo, estando pronta a cena para o saque de Tróia, saíram de seu esconderijo e começaram a matança. Os homens lutaram desesperadamente, resolvidos a vender caro suas vidas, horrorizados pela visão de suas mulheres e filhos sendo arrancados de seus refúgios para serem mortos ou aprisionados. Mais deplorável foi a morte de Príamo, assassinado no altar de seu parque por Neoptólemo, filho de Aquiles.


Ao findar a batalha, Ulisses chega a beira mar e desafia os deuses dizendo: "Viram, deuses do mar e do céu, eu conquistei Tróia. Eu, Ulisses, um mortal de carne e osso, de sangue e mente. Não preciso de vocês agora. Posso fazer qualquer coisa".

Posêidon, sentindo-se ofendido pergunta o porquê de estar sendo desafiado e lembra de que sua ajuda foi crucial ao mandar suas serpentes matar Laocoon, só assim o cavalo pôde ser introduzido em Tróia.


Irado por Ulisses recusar-se a agradecer e por sua arrogância, Posêidon diz que os homens não são nada sem os deuses e o condena a vagar para sempre em suas águas e nunca mais voltar a costa de Ítaca.

Ulisses não se arrepende e diz que nada nunca o deterá.



O REGRESSO

Para retornar à sua cidade, a frota de barcos de Ulisses seguiu Agamenon, outro valente guerreiro grego, mas uma tempestade os separou e Ulisses foi parar no país dos cicônios, que eram amigos dos troianos. Eles atacaram o barco de Ulisses, mas foram derrotados. De todos os habitantes somente um, o sacerdote Máron, se tornou amigo de Ulisses e na sua partida lhe deu doze jarrões de um vinho doce e forte.

A segunda parada de Ulisses foi numa ilha que ficava no norte da África. Eles foram bem-recebidos pelos moradores, chamados lotófagos, que ofereceram uma planta chamada lótus para os visitantes comerem. A flor de lótus era mágica e tirava a memória das pessoas que a comiam. Os companheiros de Ulisses gostaram tanto dessa planta que esqueceram sua pátria; alguns até tiveram que ser levados à força para os barcos.




A ILHA DOS CICLOPES

A parada seguinte de Ulisses foi numa ilha habitada pelos ciclopes, gigantes com apenas um olho na testa que devoravam pessoas que chegavam por engano em suas terras.

Os ciclopes eram uma raça de fortes gigantes de um só olho, que ocupavam uma fértil região onde o solo gerava abundantes plantações por conta própria, fornecendo um pasto farto para as gordas ovelhas.

Ansioso para encontrar os habitantes de tal terra, Ulisses direcionou o navio para o porto e, desembarcando, dirigiu-se juntamente com a tripulação à caverna do ciclope Polifemo, um filho de Posêidon.

O ciclope não e estava em sua caverna, fora cuidar de suas ovelhas. Assim, Ulisses e a tripulação ficaram à vontade, até que ele retornou com o seu rebanho ao crepúsculo.

Ulisses desembarcou nessa ilha com doze companheiros. Como ele não sabia quem eram os moradores daquelas terras, levou também um pouco do vinho que ganhou de Máron.

Ao chegar na ilha, entraram em uma caverna e ficaram surpresos ao encontrar uma enorme quantidade de queijo e leite. Apesar de estarem com pressa de voltar ao barco, decidiram ficar um pouco. O que Ulisses e seus companheiros não esperavam é que Polifemo, voltasse tão cedo com suas ovelhas.

Quando Polifemo entrou na caverna e viu os invasores, ficou tão bravo que logo avisou que comeria um por dia. Ulisses, então, tentando acalmar Polifemo, ofereceu-lhe vinho. O ciclope não conhecia essa bebida e gostou muito. Polifemo perguntou a ele qual era seu nome, e o herói, muito esperto, respondeu: “Meu nome é Ninguém”.

Por ter gostado da bebida, o ciclope avisou que comeria Ninguém por último e, em seguida, tomou mais uma taça de vinho, ficando com muito sono.
Antes de dormir, no entanto, Polifemo teve o cuidado de fechar a entrada de sua caverna com uma pedra que só um gigante como ele poderia retirar.

Ulisses e seus companheiros, então, começaram a planejar uma fuga, e o herói teve a idéia de espetar o único olho do gigante Polifemo com um tronco. Feito isso, o ciclope acordou gritando de dor e logo seus amigos gigantes chegaram na entrada da caverna para lhe socorrer.

Os ciclopes perguntaram: “O que aconteceu?”, e Polifemo respondeu: “Ninguém me machucou”. E eles perguntaram de novo: “Mas quem machucou você?” E Polifemo respondeu de novo: “Ninguém”. Os outros ciclopes pensaram que Polifemo estivesse ficando louco e foram embora.

Sem enxergar, Polifemo começou a tatear e apalpar pelos cantos da caverna, mas não conseguiu pegar os visitantes. O ciclope tinha que soltar as ovelhas para pastar, mas não queria deixar os gregos fugirem, por isso tirou a pedra da entrada e deixou as ovelhas saírem uma por uma, enquanto ia passando a mão sobre elas para ver se algum dos prisioneiros não tentava escapar.

Ulisses, muito inteligente, falou para seus amigos se agarrarem ao pêlo das ovelhas na parte de baixo de sua barriga, já que elas eram ovelhas gigantes como os próprios ciclopes. Dessa forma, mesmo passando a mão sobre as ovelhas, o ciclope não percebeu que os gregos estavam fugindo. Assim, eles conseguiram chegar ao barco.

Mas o pobre Ulisses não sabia que Polifemo era filho de Posêidon, deus dos mares e oceanos, que ficou muito chateado pelo que Ulisses fez ao seu filho e resolveu complicar sua viagem de volta para casa.

Ulisses reuniu-se ao restante da esquadra e, enquanto os marinheiros que pranteavam os companheiros perdidos, consolaram-se com as próprias ovelhas que tinham auxiliado sua fuga da caverna.




A ILHA DE ÉOLO

Da Ilha do Ciclope, Ulisses velejou até chegar à ilha flutuante de Eólia, cujo rei, Éolo, tinha recebido de Zeus o poder sobre todos os ventos.

Éolo recebeu Ulisses e sua tripulação de maneira hospitaleira e, ao chegar a hora da partida, Éolo deu a Ulisses uma bolsa de couro na qual tinha aprisionado todos os ventos tempestuosos; a seguir, invocou uma boa brisa para o oeste que levaria os navios a salvo para casa, em Ítaca.

Eles velejaram no curso por nove dias e estavam à vista de Ítaca quando o desastre os atingiu. Ulisses, que tinha ficado acordado durante toda a jornada segurando o leme do barco, caiu num sono exausto, e sua tripulação, não sabendo o que havia na bolsa de couro, instigados por Ânticlos começaram a suspeitar que continha um valioso tesouro que Éolo teria dado a ele. Ficaram enciumados, sentindo que tinham enfrentado as situações difíceis com Ulisses, devendo também compartilhar suas recompensas: acabaram por abrir a bolsa e acidentalmente libertaram os ventos do leste, que os manteria bem longe de Ítaca. Ulisses acordou no meio de uma medonha tempestade, que soprou o navio de volta a Eólia.

Desta vez a recepção dada a Ulisses e a seus companheiros foi bastante diferente. Eles pediram que Éolo lhes desse uma nova chance, mas, este declarando que Ulisses devia ser um homem odiado pelos deuses, negou-se terminantemente a ajudá-los, mandando embora Ulisses e seus companheiros.




A ILHA DE CIRCE

Num estado considerável de pesar e depressão, Ulisses e seus companheiro sobreviventes do terrível desfecho causado pela curiosidade, viram-se na ilha de Aca.
Desembarcando, permaneceram deitados dois dias e duas noites na praia, completamente exaustos pelos seus esforços, desmoralizados pelos horrores que tinham passado e sem comida ou água.

No terceiro dia, alguns homens comandados por Euríloco, saíram para fazer o reconhecimento da área e chegaram ao palácio que existia no alto de uma montanha. Do lado de fora haviam lobos e leões, que cabriolavam e faziam festa aos homens; eram de fato seres humanos que tinham sido transformados em animais pela feiticeira Circe, cujo lindo canto podia ser escutado do exterior da casa.

Circe era esposa de Baco, uma poderosa bruxa, que seduzia com seu canto e beleza, os homens famintos que ali chegavam oferecendo-lhes vinho e mel. Quando os homens de Ulisses gritaram para chamar sua atenção, ela saiu e os convidou-os a entrar; apenas Euríloco, suspeitando de algum truque, permaneceu do lado de fora.

Circe ofereceu comida aos homens, no qual continha uma droga que os faria esquecer de sua terra natal; quando terminaram de comer, os tocou com sua varinha e os transformou em animais, apesar de infelizmente lembrarem quem realmente eram.

Em pânico, Euríloco voltou correndo ao navio para relatar o desaparecimento de seus companheiros. Ulisses ordenou que o levasse de volta à casa de Circe, mas ele se recusou. Ulisses partiu só para o resgate.

No caminho através da ilha, encontrou Hermes. O deus deu-lhe uma planta mágica, a qual, misturada com a comida de Circe, seria um antídoto para sua droga; também o instruiu como lidar com a feiticeira: quando Circe o tocasse com sua varinha, deveria avançar sobre ela como que para matá-la; ela então recuaria com medo e o convidaria a compartilhar de sua cama. Deveria concordar com isso, mas deveria fazê-la jurar solenemente a não tentar truques enquanto estivesse vulnerável.

Os fatos se passaram como Hermes tinha previsto. Após terem ido para a cama, Circe banhou Ulisses e o vestiu com roupas finas, lhe preparou um suntuoso banquete, mas Ulisses sentou-se numa abstração silenciosa, recusando toda a atenção. Circe acabou lhe perguntando o que estava errado, e disse-lhe que ela não poderia esperar que estivesse de corpo e alma na festa enquanto metade de sua tripulação transformara-se em animais. Então Circe libertou os novos animais e os untou com ungüento mágico.

Seus pêlos rijos caíram e se tornaram novamente homens. Circe sugeriu que deveriam chamar o restante de sua companhia para que se juntassem à eles. Ficaram com Circe por cinco anos, comendo, bebendo e se divertindo, esquecendo os percalços que tinham passado.



O MUNDO INFERIOR DE HADES
Ulisses foi lembrado por alguns dos companheiros que talvez fosse tempo de se pensar em Ítaca. Circe avisou-o que antes de zarpar para casa deveria primeiro visitar o Mundo Inferior (ou reino dos mortos) para consultar o profeta Tirésias: apenas Tirésias poderia dar-lhe instruções para seu retorno.

Assim, ele velejou com seu navio através do Rio de Oceano. Ele levava um carneiro para oferecer a Tirésias. Quando esse apareceu, disse-lhe que havia uma boa possibilidade para seu retorno a salvo para casa, desde que seguisse a constelação de Órion.

Mesmo para o valente Ulisses, ir até o mundo dos mortos era uma tarefa assustadora. Utilizando uma passagem que existia na ilha de Circe, Ulisses chegou até o reino do deus Hades, que permitiu ao herói falar com Tirésias.

Ulisses aproveitou para rever sua mãe, que havia morrido de tristeza com sua partida, e os amigos que havia perdido na guerra de Tróia. Sua mãe, relatou-lhe como tinha morrido e fez um triste relato do estado lamentável de seu pai Laerte e os bravos esforços de Penélope para repelir seus pretendentes.

O adivinho disse que Ulisses chegaria sozinho a Ítaca, sua pátria, e que seria levado até lá em um barco de outro povo. Quando chegasse, teria que expulsar os pretendentes de Penélope, pois sua longa ausência fez com que seu povo achasse que ele havia morrido e, naquela época, quando um rei morria, a rainha deveria se casar novamente.

Tirésias ainda disse que teria que acertar contas com Posêidon para que ele perdoasse o que fez a Polifemo.

Ulisses voltou para o mundo dos vivos, reuniu seus homens e partiu. Mas ele não sabia se deveria se sentir triste ou alegre, pois ao mesmo tempo em que estava feliz por saber que voltaria à sua pátria, sabia que perderia seu barco e seus amigos.




O ENCANTO DAS SEREIAS

Ulisses fora avisado por Circe que em seu caminho de volta teria que passar por uma ilha onde viviam as sereias. Sabendo que o canto delas enfeitiçava os homens e os atraía para as pedras, afundando, assim, os barcos, Ulisses pediu aos seus companheiros que tampassem os ouvidos com cera de abelha para não ouvirem o canto maravilhoso.

Como Ulisses estava curioso para ouvi-lo, pediu a eles que o amarrassem no mastro principal, mas sem tampar seus ouvidos. Feito isso, passou com seu barco ao lado das sereias. Enquanto os homens remavam o mais rápido que podiam para não ouvir as vozes que enfeitiçavam, Ulisses se debatia desesperadamente querendo se soltar e ir ao encontro das sereias.

Felizmente as cordas eram bem fortes e conseguiram segurar o herói. Continuando a viagem, Ulisses encontrou os rochedos que se moviam e fechavam de repente para esmagar os barcos durante sua travessia, só que eles não ofereciam mais perigo, pois quando Jasão e os Argonautas conseguiram passar por eles sem serem destruídos eles se tornaram rochas normais.




O ESTREITO DE CILA E CARÍBDE

A próxima tarefa enfrentada por Ulisses foi navegar os dois locais mais perigosos de Cila e Caríbde.

Conta a lenda que Caríbde era filha de Netuno e da Terra e, por ter roubado bois que pertenciam a Hércules, foi fulminada por Júpiter e transformada em sorvedouro marinho.

Ela uniu-se a Cila que era uma ninfa de grande beleza, filha de Forco e de Hécate. Glauco, o deus marinho, apaixonou-se pela jovem Cila, mas esta desprezou seu amor, o que o fez recorrer as artes mágicas de Circe. A feiticeira, que por sua vez amava Glauco, fingiu ajudá-lo e derramou sucos de ervas mágicas, de maléficos poderes, nas águas em que a ninfa costumava banhar-se.

Sob o poder das plantas, Cila transformou-se em um monstro horrendo, e mesmo assim Glauco não se uniu a Circe, pois ficou horrorizado com a sua feitiçaria. Foi lamentável, mas o deus marinho perdeu a ninfa Cila, que permaneceu para sempre na água ao lado de Caríbde, o sorvedouro.

Cila ocultava-se numa caverna localizada no alto de um rochedo, disfarçada pela névoa e vapor de água dos vagalhões abaixo; sua aparência era horrenda: na parte de cima parecia com uma mulher e na parte de baixo possuía doze pés que balançavam no ar e seis pescoços, cada um equipado com uma monstruosa cabeça com três fileiras de dentes. Da sua caverna exigia uma taxa de vítimas humanas dos barcos que passavam abaixo.

Ulisses, alertado por Circe, decidiu não contar a seus marinheiros sobre Cila, que era um monstro que atacavam os marujos. Mesmo passando rapidamente, o monstro prendeu um homem e danificou o barco.

No final do estreito ficava Caríbde, um monstro que morava no fundo do mar e que três vezes por dia tragava água, formando um enorme redemoinho e engolindo tudo o que estava por perto. Para azar de Ulisses, o monstro sugou o barco e por pouco ele próprio não foi junto, conseguindo se salvar segurando num tronco de árvore, no qual ficou pendurado por várias horas, até o redemoinho acabar. Exausto, Ulisses se agarrou a uns pedaços de madeira que sobraram do barco e ficou boiando sem destino. Ao final, Ulisses conseguiu escapar e teve sucesso em arrebatar seis vítimas.



A ILHA DE CALIPSO

Calipso tornou Ulisses seu amante e ficou com ele por sete anos. A deusa Athena acabou enviando Hermes, mensageiro dos deuses, para explicar à ninfa que era chegada a hora de deixar seu visitante seguir seu caminho.

Calipso, apesar de relutante em perdê-lo, sabia que deveria obedecer, assim forneceu a Ulisses material para a confecção de uma jangada, deu-lhe comida e bebida e invocou um vento suave para levá-lo de volta a Ítaca.

Sem incidentes, aproximou-se da terra dos Faécios, grandes marinheiros que estavam destinados a levá-lo na última etapa de sua viagem.

Mas então Posêidon interveio: detestava Ulisses pelo que tinha causado a seu filho, o Ciclope Polifemo, e agora estava irado por vê-lo tão próximo do fim de sua jornada. Enviou outra tempestade, que partiu o mastro da jangada e a deixou ser levada pelo vento.

Ulisses foi salvo da morte certa pela intervenção da ninfa marinha Ino. Ela deu-lhe seu véu, instruindo-o a atá-lo ao redor da cintura e então a abandonar o barco e se dirigir para a praia. Como uma grande onda despedaçou sua jangada, Ulisses fez o que tinha lhe sido dito. Por dois dias e duas noites nadou em frente, mas no terceiro dia alcançou as praias de Faécia e acabou conseguindo chegar à costa rochosa na foz de um rio.

Atirou o véu de Ino de volta ao mar e deitou-se numa moita espessa para dormir.
“Em Ogigia, ilha de Calipso, Ulisses desobriu que é melhor ficar a vida toda procurando por sua esposa amada do que desfrutar de uma vida cheia de conforto ao lado de uma pessoa que não ama.”




A ILHA DE FAÉCIA

Inspirada por Athena, a princesa Faeciana Nausícaa havia escolhido aquele mesmo dia para uma ida à foz do rio para lavar roupas nas fundas lagoas que lá existiam. Quando ela e suas criadas terminaram a lavagem e espalharam as roupas sobre os seixos, brincaram com uma bola enquanto esperavam que as roupas secassem.

Nausícaa atirou a bola para uma das criadas, esta não conseguiu segurar e acabou caindo no rio; todas as moças gritaram alto e Ulisses acordou de seu sono, imaginando em que terra selvagem tinha chegado agora. Dirigiu-se a Nausícaa numa súplica, pedindo-lhe para mostrar o caminho para a cidade.

Ela deu-lhe comida e bebida, e ele a acompanhou juntamente com as outras moças de volta aos arredores da cidade. A princesa deixou Ulisses no centro da cidade e sugeriu que fosse direto à casa de seu pai Alcínoo e caísse aos pés de sua mãe Arete com uma súplica.

Guiado pela própria Athena, Ulisses chegou ao esplêndido palácio de Alcínoo. Havia paredes de bronze e portões de ouro, guardados por cães de guarda de ouro e prata. Dentro do palácio, a luz era fornecida por estátuas de ouro maciço mostrando jovens portando tochas. Dentro do pátio havia um lindo jardim e horta, com árvores frutíferas, vinhas e uma bem aguada cobertura vegetal. Após ter admirado tudo isso, Ulisses entrou e caminhou diretamente em direção à rainha Arete, os Faécios escutaram com espanto sua petição: pediu abrigo e para ser transportado para sua terra natal.

Quando se recobrou de sua surpresa inicial, Alcínoo foi generoso na sua reação. Polidamente, evitou questionar seu hóspede imediatamente, arranjou-lhe um descanso imediato, prometendo que pela manhã medidas seriam tomadas para retorná-lo a sua terra. Quando os outros Faécios se retiraram e Ulisses ficou a sós com Alcínoo, Arete perguntou-lhe quem era. Ulisses, então, contou a estória de suas aventuras desde que tinha deixado a ilha de Ogigia, explicando como tinha encontrado Nausícaa na foz do rio. Enquanto isso, Arete arranjou que um leito fosse arrumado e Ulisses ficou grato em se retirar.

No dia seguinte um barco foi emparelhado para transportar Ulisses de volta à sua casa, mas antes de partir, o hospitaleiro Alcínoo insistiu em festejar seu hóspede e regalá-lo com esportes e outros entretenimentos. Alcínoo pediu a Ulisses que lhes contasse quem era, de onde vinha e para onde desejava ser transportado. Ulisses diz que não pode pronunciar seu nome, que há muito tempo foi amaldiçoado e que se o disser somente causará dor àqueles que o acolheram. Então o rei diz que só conhece um herói perdido e, mesmo amaldiçoado pelos deuses, sobreviveu. Ulisses diz a Alcínoo seu nome e o rei sente-se honrado em ter a presença do herói em seu reino.

Na manhã seguinte Ulisses despediu-se finalmente de seus anfitriões e um rápido barco Faeciano o conduziu sem incidentes a Ítaca. Ulisses dormiu quando o barco percorria sua rota, e estava ainda adormecido quando a tripulação o colocou, juntamente com os presentes recebidos dos Faécios, na praia de Ítaca, ao lado de uma maravilhosa caverna, morada das ninfas.

Quando Ulisses acordou não conseguiu reconhecer o local, em grande parte porque Athena tinha lançado uma névoa sobre a ilha, para lhe dar tempo de encontrar Ulisses e lhe arranjar um disfarce adequado. Como estava nervosamente se perguntando onde os traiçoeiros Faécios o tinham desembarcado, Athena apareceu na forma de um pastor e, em resposta às suas perguntas, contou-lhe que estava realmente em Ítaca. O cansado Ulisses contou a deusa uma história sobre ser um exilado cretense; ela sorriu diante de sua inteligência e em resposta revelou sua verdadeira identidade, reafirmando-lhe que estava realmente em Ítaca, e o aconselhou como deveria proceder para reconquistar sua esposa e reino.

Quando Ulisses reconhece seu erro e aprende que é apenas um homem, consegue finalmente voltar à sua ilha de Ítaca.




RETORNO A ÍTACA

Nos vinte anos que Ulisses esteve fora de casa, a maioria do povo de Ítaca, fora sua esposa Penélope, seu filho Telêmaco e uns poucos amigos fiéis, acreditava que estava morto, que tinha morrido em Tróia ou na sua viagem de volta. Como Penélope não era apenas bonita e completa, mas também rica e poderosa, sendo que o homem que casasse com ela herdaria a riqueza e a posição de Ulisses, estava sendo acossada por pretendentes jovens e nobres que permaneciam no palácio de seu marido, comendo e bebendo suas provisões e forçando suas atenções indesejadas sobre ela.


Pelo período que pode, Penélope ganhou tempo, convencendo cada um que havia base para esperança, mas não dizendo nada definitivo a qualquer um deles. Por três anos os enganou, dizendo que estava tecendo um manto para Ulisses; seria inadmissível que ele morresse sem que tivesse uma mortalha pronta; portanto deveriam aguardar sua decisão até que tivesse terminado sua tarefa.

Todos os dias trabalhava no tear, mas à noite desfazia seu trabalho sob luz de tochas. No início do quarto ano, entretanto, foi traída por uma de suas criadas, que ajudou seus pretendentes a pegá-la no seu artifício.


Pouco antes da chegada de Ulisses em Ítaca, Athena inspirou Telêmaco, agora já homem feito, para desempenhar um papel ativo no retorno de seu pai, a fazer uma jornada com o objetivo de descobrir o que lhe tinha acontecido. O jovem se dirigiu ao magnificente palácio de Menelau, em Esparta. O rei o tratou com grande bondade, e explicou como tinha ficado sabendo de um Velho Homem do Mar que Ulisses havia morrido.


A CHEGADA DE ULISSES

Os feácios levaram Ulisses até Ítaca, como haviam prometido. Antes de ir para o palácio, ele passou na casa de um velho amigo chamado Eumeu, que o reconheceu e contou tudo o que havia acontecido em sua ausência. Ulisses também reencontrou Telêmaco, seu filho, que ele tinha visto apenas no dia do nascimento.

Atena apareceu e disse para Ulisses não se apresentar como ele mesmo. Com um rápido gesto, transformou o herói em um velho mendigo e disse que ele voltaria a ser o que era no momento certo.

Assim disfarçado, Ulisses foi para o palácio, onde foi ignorado pelos pretendentes, mas recebido com hospitalidade pelos criados, que sempre tratavam bem os viajantes. Nem mesmo Penélope reconheceu Ulisses, que só foi reconhecido por uma criada, que viu a cicatriz que ele tinha na perna, e pelo seu cachorro que se chamava Argo.


O GRANDE DESAFIO
Ulisses pediu a Telêmaco para dizer à sua mãe que marcasse para o dia seguinte a escolha do pretendente. Seria escolhido aquele que conseguisse armar o arco de Ulisses e atirar uma flecha pelo buraco do cabo de doze machados.

Nenhum dos pretendentes conseguiu sequer colocar a corda no arco. Ulisses, ainda disfarçado, pediu para tentar. Todos riram do mendigo e entregaram o arco a ele. Rapidamente Ulisses armou o arco, atirou uma flecha pelos buracos dos machados e foi transformado novamente em herói.

Todos ficaram espantados. Com um sinal de Ulisses, Telêmaco fechou as portas da sala e os dois lutaram contra todos os pretendentes, que levaram a maior surra.



O AMOR DE PENÉLOPE
Durante o período de vinte anos que Ulisses esteve fora, Penélope nunca perdeu as esperanças de reencontrá-lo. Ulisses também sabia que mesmo tendo que enfrentar todos os perigos, chegaria o dia em que se juntaria à sua família.

Agora Ulisses tinha seu reino e as pessoas de que gostava ao seu lado. Tinha muito trabalho pela frente, pois durante anos os pretendentes de Penélope viveram em seu palácio e destruíram muito do que ele havia construído.

Além disso, os parentes dos pretendentes queriam se vingar do herói, mas a deusa Atena apareceu e fez com que a paz reinasse entre todos. Para completar sua felicidade, Ulisses trouxe de volta ao palácio seu pai, Laertes, que havia mudado para o campo para não ter que conviver com os pretendentes.

Ulisses ainda tinha um trabalho a fazer: para que Posêidon o perdoasse, o herói foi até a ilha de Épiros, onde ofereceu um boi ao deus e teve o perdão que mereceu.